Como realizar atendimento odontológico a pacientes com HIV

Andriely Lucavei
maio 29, 2025
9 minutos de leitura.
Atendimento ao Paciente
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HIV odontologia. Profissional preparado para o atendimento.
O atendimento a pacientes com HIV no ambiente odontológico exige conhecimento técnico, responsabilidade ética e uma postura humanizada.

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O atendimento a pacientes com HIV no ambiente odontológico exige conhecimento técnico, responsabilidade ética e uma postura humanizada por parte dos profissionais da saúde bucal. 

Com os avanços da medicina e a eficácia dos antirretrovirais, pessoas vivendo com HIV têm hoje uma expectativa de vida próxima à da população geral, o que reforça a importância do cuidado odontológico contínuo, integrado e livre de preconceitos.

Apesar das conquistas clínicas, ainda existem barreiras relacionadas ao estigma e à desinformação no atendimento odontológico a pacientes vivendo com HIV. Por isso, é fundamental que cirurgiões-dentistas estejam preparados para oferecer um cuidado seguro, ético e acolhedor, respeitando os direitos do paciente, garantindo a confidencialidade das informações e aplicando rigorosamente os protocolos de biossegurança.

Neste conteúdo, você vai entender o papel estratégico da odontologia na promoção da saúde bucal e sistêmica de pessoas vivendo com HIV, conhecer as manifestações orais mais comuns da infecção, revisar os protocolos clínicos essenciais para a segurança do atendimento e aprender como estruturar sua clínica para oferecer um ambiente inclusivo e profissional. 

Boa leitura!

Leia também: Saúde e bem-estar na odontologia: como o dentista pode se proteger de contaminações e exposição a doenças na profissão

 HIV e odontologia: o que o dentista precisa saber

O HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana) ataca o sistema imunológico, mais especificamente os linfócitos T CD4+, responsáveis pela defesa do organismo contra agentes patogênicos. Com a progressão da infecção, o organismo fica mais suscetível a doenças oportunistas, incluindo infecções bucais severas. 

No entanto, graças aos avanços da medicina, especialmente com a introdução da terapia antirretroviral combinada (TARV), pessoas vivendo com HIV (PVHIV) hoje têm maior longevidade, com qualidade de vida e possibilidade de controle da carga viral a níveis indetectáveis.

Essa nova realidade clínica destaca ainda mais a importância da odontologia como parte essencial do cuidado sistêmico de pessoas vivendo com HIV. O acompanhamento odontológico não apenas contribui para a saúde bucal, mas também auxilia na detecção precoce de manifestações clínicas relacionadas ao HIV, além de prevenir agravos que podem comprometer a saúde geral do paciente.

Principais manifestações orais associadas ao HIV

O ambiente bucal frequentemente reflete alterações imunológicas e pode ser uma das primeiras regiões a apresentar sinais sugestivos de imunossupressão. 

Algumas das condições mais comuns em pacientes com HIV incluem:

  • Candidíase oral: infecção fúngica comum, especialmente nas formas pseudomembranosa e eritematosa. Pode indicar queda na imunidade.
  • Gengivite ou periodontite ulcerativa necrosante: formas severas de doenças periodontais associadas à deficiência imune, com dor intensa, sangramento e destruição tecidual rápida.
  • Leucoplasia pilosa oral: lesão esbranquiçada, frequentemente na borda lateral da língua, causada pelo vírus Epstein-Barr, altamente associada à imunossupressão.
  • Xerostomia (boca seca): comum em pacientes com HIV devido ao uso de medicamentos ou pela própria condição imunológica, podendo predispor a cáries e infecções secundárias.
  • Aftas recorrentes e infecções oportunistas: ulcerações orais frequentes e persistentes, além de infecções causadas por microrganismos que normalmente não afetariam pacientes imunocompetentes.

A odontologia como aliada na detecção precoce do HIV

O cirurgião-dentista tem um papel estratégico não apenas no tratamento, mas também na identificação precoce de sinais clínicos do HIV, muitas vezes antes mesmo do diagnóstico médico. Isso reforça a importância de uma anamnese detalhada, exame clínico criterioso e encaminhamento para investigação médica quando necessário.

Além disso, o acompanhamento odontológico regular de pacientes vivendo com HIV contribui significativamente para a prevenção de complicações, melhora da mastigação e nutrição, conforto e autoestima do paciente, o que impacta diretamente na sua qualidade de vida.

Leia também: EPIs na Odontologia: quais são os equipamentos essenciais para você usar na sua clínica?

Protocolos clínicos e biossegurança no atendimento odontológico a pacientes com HIV

A base da biossegurança na odontologia está nas precauções padrão (também chamadas universais), que devem ser aplicadas a todos os pacientes, independentemente de seu histórico sorológico. 

Isso significa que o atendimento odontológico a pessoas vivendo com HIV não exige nenhum protocolo especial ou diferenciado em relação aos demais pacientes, mas sim a aplicação rigorosa e consciente das normas já estabelecidas.

O que não muda: fundamentos da prática segura

  • Uso de EPIs (Equipamentos de Proteção Individual): máscaras, luvas, óculos de proteção, gorros e aventais descartáveis são indispensáveis para prevenir a exposição a fluidos corporais.
  • Esterilização rigorosa de instrumentais: a desinfecção e esterilização dos materiais devem seguir os protocolos da Anvisa e do CFO, assegurando a eliminação de qualquer agente patogênico.
  • Descarte correto de materiais perfurocortantes: agulhas, lâminas, brocas e outros itens cortantes devem ser descartados imediatamente após o uso em recipientes apropriados, resistentes à perfuração.

O que merece atenção específica no contexto do atendimento odontológico de pacientes com HIV

Embora os cuidados básicos sejam os mesmos, aspectos clínicos que exigem atenção personalizada no planejamento do tratamento odontológico de pacientes com HIV:

  • Avaliação do estado imunológico do paciente: conhecer a contagem de linfócitos CD4 e a carga viral é essencial para avaliar o risco de infecções e a capacidade de cicatrização do paciente. Uma contagem de CD4 abaixo de 200 células/mm³ pode indicar maior vulnerabilidade a complicações.
  • Uso de anestésicos e antibióticos: de modo geral, os anestésicos locais comuns podem ser utilizados sem contraindicações. No entanto, em casos de pacientes com carga viral alta ou uso de múltiplos antirretrovirais, é recomendável avaliar potenciais interações medicamentosas, especialmente com antibióticos como metronidazol, claritromicina e azitromicina. Quando necessário, o dentista deve solicitar parecer médico.
  • Cuidados em cirurgias e procedimentos invasivos: procedimentos como exodontias, raspagens profundas ou cirurgias periodontais devem ser avaliados com base no estado clínico e imunológico do paciente. Em alguns casos, pode-se indicar o uso profilático de antimicrobianos ou o agendamento em horários específicos para reduzir riscos.

Conduta em acidentes com perfurocortantes em atendimento odontológicos de pessoas vivendo com HIV

Acidentes com agulhas, brocas ou instrumentos cortantes devem ser tratados com seriedade e agilidade no ambiente odontológico, especialmente quando envolvem pacientes HIV positivo, embora o risco de transmissão nesses casos seja muito baixo.

Passos recomendados:

  1. Primeiros socorros imediatos: lavar a área afetada com água e sabão (sem uso de produtos abrasivos). Não espremer o local.
  2. Comunicação interna: informar a ocorrência imediatamente à coordenação da clínica e preencher a Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT).
  3. Encaminhamento para profilaxia pós-exposição (PEP): a PEP deve ser iniciada idealmente nas primeiras 2 horas após o acidente, e sempre antes de 72 horas. O profissional deve ser encaminhado a um serviço de referência, onde receberá acompanhamento clínico e laboratorial.
  4. Acompanhamento psicológico e médico: além do suporte físico, é importante considerar o apoio emocional e o monitoramento da saúde do profissional envolvido.

Leia também: Como evitar contaminação cruzada no consultório odontológico

Como preparar sua clínica para oferecer um atendimento ético, inclusivo e humanizado

O atendimento odontológico a pacientes vivendo com HIV deve ser pautado não apenas por competência técnica, mas por uma postura ética, acolhedora e livre de preconceitos. 

Nesse contexto, a clínica odontológica precisa se estruturar para garantir sigilo, respeito, empatia e privacidade, fortalecendo sua imagem como um espaço de cuidado humanizado e inclusivo.

Sigilo e discrição como pilares do atendimento

A confidencialidade é um direito fundamental do paciente e deve ser tratada como prioridade absoluta. Informações sobre a sorologia do paciente nunca devem ser compartilhadas ou comentadas fora do ambiente clínico, mesmo de forma informal entre colegas. 

O prontuário deve ser armazenado com segurança, e os dados sensíveis devem estar acessíveis apenas a profissionais autorizados. A privacidade durante a recepção, triagem e atendimento também deve ser preservada, evitando exposição desnecessária.

Comunicação sem preconceitos

Uma linguagem acolhedora, neutra e informativa faz diferença na experiência do paciente. Evite termos estigmatizantes como “portador”, “grupo de risco” ou expressões que sugiram julgamento. 

Prefira termos atualizados como “pessoa vivendo com HIV” e adote uma postura de escuta ativa, empatia e acolhimento durante a consulta. A comunicação não-verbal, como o olhar, o tom de voz e a postura, também transmite mensagens importantes sobre respeito e profissionalismo.

Treinamento da equipe: ética, diversidade e saúde pública

Toda a equipe, incluindo recepcionistas, auxiliares, técnicos e dentistas, deve ser treinada com regularidade sobre temas fundamentais, como:

  • Ética e bioética no atendimento clínico;
  • Diversidade e inclusão na saúde;
  • Saúde pública e papel da odontologia no enfrentamento ao HIV;
  • Combate à desinformação e ao estigma.

Esses treinamentos podem ser realizados por meio de workshops internos, palestras com especialistas ou cursos de atualização. O objetivo é garantir que todos saibam como agir com respeito, segurança e empatia, desde o agendamento até o pós-atendimento.

Adaptação de processos internos

Para consolidar uma cultura ética e acolhedora, é importante revisar e adaptar documentos e fluxos internos da clínica:

  • Formulários e termos de consentimento: devem utilizar linguagem neutra e respeitosa, evitando perguntas invasivas ou desnecessárias.
  • Fluxos de atendimento: organize o agendamento e o fluxo de pacientes de forma a garantir discrição e conforto, especialmente em procedimentos mais sensíveis.
  • Prontuários e registros eletrônicos: devem incluir campos apropriados para informações clínicas relevantes, mantendo a confidencialidade e o controle de acesso.

Posicionamento institucional e benefícios para a imagem da clínica

Adotar uma postura pública clara sobre diversidade e ética fortalece o posicionamento da clínica como espaço seguro e comprometido com a saúde pública

Isso pode ser feito por meio de:

  • Postagens informativas nas redes sociais sobre saúde bucal e HIV;
  • Informativos sobre a importância da odontologia na saúde e bem-estar de pessoas vivendo com HIV;
  • Participação em campanhas do Dia Mundial de Luta Contra a AIDS (1º de dezembro);
  • Divulgação de práticas inclusivas e de responsabilidade social nos canais institucionais.

Além de cumprir seu papel social, essa postura traz benefícios concretos:

  • Reputação ética e profissional;
  • Maior credibilidade entre pacientes e colegas;
  • Fortalecimento do vínculo com a comunidade e os públicos mais vulnerabilizados.

Leia também: Normas da ANVISA para consultórios odontológicos: como garantir conformidade e segurança na sua clínica

Conclusão

Garantir um atendimento odontológico ético, seguro e livre de preconceitos a pessoas vivendo com HIV é um compromisso que vai além da técnica. Envolve preparo, empatia e responsabilidade social por parte de toda a equipe clínica. Além disso, contar com o suporte da tecnologia é essencial para garantir a organização, o sigilo e a qualidade do atendimento.

Pensando nisso, o software odontológico Clinicorp foi desenvolvido para atender as necessidades de clínicas e consultórios de todos os tamanhos, oferecendo recursos que facilitam o gerenciamento de prontuários eletrônicos com segurança, a padronização de fluxos clínicos e administrativos e o cumprimento das normas de biossegurança e sigilo profissional.

Com a tecnologia certa ao seu lado, sua clínica pode proporcionar um atendimento mais humanizado, eficiente e respeitoso, reforçando seu posicionamento ético e a confiança dos seus pacientes. 

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Andriely Lucavei

Redatora com foco em criação de conteúdo para blogs e redes sociais. Apaixonada por transformar ideias em textos que conectam marcas e pessoas de forma criativa e estratégica.

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