A odontologia do sono é uma das áreas que mais têm crescido dentro da odontologia clínica. Cada vez mais profissionais buscam especializações e capacitações para atuar nesse campo que alia saúde bucal ao tratamento de distúrbios respiratórios do sono, como a apneia obstrutiva.
Esse avanço não é por acaso: segundo dados da Academia Brasileira do Sono, cerca de 30% da população sofre com algum tipo de distúrbio do sono, sendo a apneia uma das mais prevalentes.
Entenda, nesse conteúdo, o que é odontologia do sono, os distúrbios que ela trata, os principais tratamentos e equipamentos utilizados e como comunicar esse novo serviço aos pacientes da sua clínica.
Boa leitura!
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O que é odontologia do sono?
A odontologia do sono é uma subárea da odontologia que atua na prevenção, diagnóstico, tratamento e acompanhamento dos distúrbios respiratórios do sono, principalmente a apneia obstrutiva do sono (AOS) e o ronco primário, por meio de abordagens odontológicas, com destaque para os aparelhos intraorais (AIOs).
Essa prática está inserida no contexto da medicina do sono, uma área multidisciplinar que envolve profissionais de diversas especialidades, como neurologistas, otorrinolaringologistas, pneumologistas e fisioterapeutas.
O papel do dentista é complementar, mas essencial, atuando de forma integrada com a equipe médica, especialmente nos casos de apneia leve a moderada, onde os aparelhos intraorais podem substituir o CPAP com eficácia clínica comprovada.
Como essa subespecialidade se posiciona na odontologia
Embora ainda não seja uma especialidade oficialmente reconhecida pelo Conselho Federal de Odontologia (CFO), a odontologia do sono é considerada uma área de atuação complementar, exigindo cursos de capacitação e formação continuada.
Dentro da prática odontológica, ela se posiciona como uma área interdisciplinar, que exige domínio de conhecimentos anatômicos, respiratórios, fisiológicos e do sono.
Não é uma extensão da ortodontia ou da prótese, mas sim uma área própria, que exige:
- Conhecimento em fisiopatologia do sono;
- Interpretação de exames como a polissonografia;
- Capacidade de realizar intervenções clínicas seguras, com base em evidências;
- Atualização constante com guias clínicos e consensos internacionais.
Diferenças entre odontologia do sono clínica e hospitalar
A odontologia do sono clínica é a forma mais comum de atuação. Nela, o dentista trabalha em consultórios particulares ou clínicas odontológicas, realizando triagens, confecção de aparelhos intraorais, ajustes e acompanhamentos periódicos. O foco está em pacientes com ronco e apneia leve a moderada, geralmente já diagnosticados por médicos do sono.
Já a odontologia do sono hospitalar é mais complexa e envolve a atuação em instituições de saúde e hospitais, geralmente em parceria com serviços de pneumologia, otorrinolaringologia e medicina do sono.
O dentista hospitalar pode:
- Participar de equipes multiprofissionais em laboratórios do sono;
- Atuar em casos mais graves ou de difícil adesão ao CPAP;
- Colaborar com protocolos clínicos institucionais;
- Auxiliar na adaptação de dispositivos orais em pacientes com comorbidades.
Embora menos comum no Brasil, essa vertente é promissora e exige maior nível de formação e inserção em equipes hospitalares.
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Distúrbios do sono mais comuns tratados pela odontologia
A odontologia do sono atua de forma direta no manejo de alguns dos distúrbios respiratórios do sono mais prevalentes, com destaque para a apneia obstrutiva do sono (AOS), o ronco e o bruxismo do sono.
O cirurgião-dentista pode desempenhar um papel central no controle desses quadros, desde que devidamente capacitado e atuando em parceria com outros especialistas da medicina do sono.
Apneia obstrutiva do sono (AOS)
A AOS é um distúrbio caracterizado por interrupções recorrentes da respiração durante o sono, causadas por colapsos parciais ou totais das vias aéreas superiores.
Esses episódios, chamados de apneias (interrupções) ou hipopneias (reduções), podem ocorrer dezenas ou até centenas de vezes por noite, fragmentando o sono e reduzindo a oxigenação sanguínea.
A AOS pode ter múltiplas causas, incluindo:
- Anatomia desfavorável da orofaringe (excesso de tecido, retrognatismo mandibular, amígdalas hipertróficas);
- Obesidade e acúmulo de gordura cervical;
- Relaxamento muscular excessivo durante o sono;
- Uso de sedativos ou álcool antes de dormir;
- Fatores genéticos e envelhecimento.
Os principais sinais e sintomas incluem:
- Ronco alto e frequente;
- Pausas respiratórias percebidas por terceiros;
- Sonolência excessiva diurna;
- Cefaleia matinal;
- Irritabilidade, déficit de atenção e alterações de humor.
Riscos sistêmicos:
A AOS é considerada uma condição crônica de alto risco sistêmico. Estudos demonstram forte associação com:
- Hipertensão arterial;
- Doenças cardiovasculares, como arritmias, infarto e insuficiência cardíaca;
- Diabetes tipo 2 e resistência à insulina;
- Derrames (AVC);
- Síndrome metabólica e obesidade;
- Redução da expectativa de vida e aumento do risco de acidentes automobilísticos e laborais.
O tratamento odontológico, por meio de aparelhos intraorais, tem sido uma alternativa eficaz para casos leves e moderados, com vantagens como maior adesão e menor custo em comparação ao CPAP, desde que indicado após avaliação médica e exames apropriados.
Ronco
O ronco é um som resultante da vibração dos tecidos moles das vias aéreas superiores durante a respiração noturna.
Embora comum, ele se torna um problema clínico quando:
- É persistente e de alta intensidade;
- Está associado a pausas respiratórias;
- Atrapalha o sono do paciente e de parceiros;
- Indica possível progressão para apneia do sono.
O ronco primário (sem apneia) pode ser tratado de forma eficaz com dispositivos orais de avanço mandibular, que reposicionam a mandíbula e aumentam o espaço da via aérea.
O ronco frequente pode levar a fragmentação do sono, fadiga e sonolência, mesmo em ausência de apneia. Além disso, compromete a convivência conjugal e pode gerar constrangimento social, prejudicando relacionamentos afetivos e até ambientes profissionais.
Bruxismo do sono
O bruxismo do sono é um distúrbio caracterizado por atividade muscular involuntária durante o sono, como apertamento ou ranger dos dentes.
Classificado como um distúrbio do movimento relacionado ao sono, ele pode ocorrer isoladamente ou associado a outros distúrbios, como a apneia.
Diversos fatores podem contribuir para o bruxismo, incluindo:
- Estresse psicológico e ansiedade;
- Má oclusão dentária e alterações da ATM;
- Distúrbios respiratórios, como a própria apneia. Pacientes com AOS tendem a apresentar episódios de bruxismo como resposta reflexa ao esforço respiratório.
Se não tratado, o bruxismo pode levar a:
- Desgaste dentário severo;
- Fraturas de restaurações e próteses;
- Dor orofacial e disfunções temporomandibulares (DTM);
- Distúrbios do sono e da qualidade de vida.
A atuação do dentista é fundamental tanto no controle dos danos dentários quanto na investigação das causas associadas, integrando-se ao plano de tratamento multiprofissional.
Importância do diagnóstico multidisciplinar
A odontologia do sono não atua isoladamente, ela faz parte de uma abordagem multidisciplinar.
O diagnóstico preciso dos distúrbios do sono depende de:
- Consulta com médico do sono (pneumologista, otorrino ou neurologista);
- Realização da polissonografia, exame padrão-ouro que monitora parâmetros como oxigenação, frequência cardíaca, movimentos respiratórios e fases do sono;
- Avaliação odontológica funcional e estrutural, com atenção à posição mandibular, tipo de oclusão, presença de obstruções e hábitos parafuncionais.
Essa atuação conjunta é essencial para garantir segurança, eficácia terapêutica e acompanhamento clínico adequado, permitindo que o dentista contribua com intervenções eficazes e baseadas em evidências.
O papel do profissional dentista na odontologia do sono
O cirurgião-dentista tem um papel cada vez mais estratégico na identificação e tratamento de distúrbios do sono com impacto na função respiratória.
Sua atuação na odontologia do sono é focada na avaliação clínica odontológica de pacientes com sinais sugestivos de apneia obstrutiva do sono (AOS) e na indicação, adaptação e monitoramento de aparelhos intraorais (AIOs), dispositivos eficazes no manejo do ronco e da apneia leve a moderada.
A seguir, veja as principais responsabilidades e competências necessárias para a atuação na odontologia do sono.
Avaliação clínica e identificação dos sinais de distúrbios do sono
O primeiro passo para o dentista que atua na odontologia do sono é desenvolver a capacidade de identificar sinais clínicos e comportamentais que podem indicar a presença de distúrbios respiratórios do sono.
Isso pode ser feito durante consultas regulares, por meio de:
- Anamnese detalhada, investigando sintomas como ronco frequente, pausas respiratórias, sonolência diurna, cefaléia matinal, bruxismo, dificuldade de concentração e insônia;
- Questionários validados como o Epworth Sleepiness Scale, STOP-Bang e Questionário de Berlim, que ajudam a estratificar o risco de AOS;
- Exame clínico e funcional da cavidade oral, observando:
- Retrognatismo mandibular;
- Redução do espaço orofaríngeo;
- Hipertrofia de tecidos moles;
- Tipo de oclusão;
- Presença de bruxismo ou desgaste dentário.
Caso haja suspeita de distúrbio respiratório do sono, o paciente deve ser encaminhado para um médico do sono, que será o responsável por solicitar a polissonografia e estabelecer o diagnóstico final.
Indicações para o uso de aparelhos intraorais (AIOs)
Uma vez confirmado o diagnóstico de apneia obstrutiva do sono leve ou moderada por meio de polissonografia, e caso haja intolerância ou recusa ao uso do CPAP (pressão positiva contínua nas vias aéreas), o AIO pode ser indicado como tratamento alternativo, com respaldo clínico e científico.
Os AIOs funcionam promovendo o avanço mandibular controlado durante o sono, o que resulta em:
- Aumento do diâmetro da via aérea superior;
- Redução do colapso faríngeo;
- Diminuição dos episódios de apneia e hipopneia;
- Redução do ronco e melhora da oxigenação.
Indicações típicas incluem:
- Pacientes com AOS leve a moderada;
- Ronco primário sem apneia;
- Pacientes com AOS grave que não toleram CPAP e estão em plano terapêutico compartilhado com médico do sono.
Acompanhamento contínuo e ajustes no dispositivo
Na odontologia do sono, a atuação do dentista não termina com a entrega do AIO. Pelo contrário, o sucesso do tratamento depende de um acompanhamento sistemático e criterioso, que inclui:
- Sessões de ajuste progressivo do dispositivo, para garantir eficácia clínica sem comprometer o conforto ou causar efeitos colaterais (como dor na ATM, movimentações dentárias ou salivação excessiva);
- Reavaliação dos sintomas subjetivos do paciente após as primeiras semanas;
- Encaminhamento para nova polissonografia com o dispositivo em uso, a fim de confirmar a eficácia do tratamento;
- Monitoramento de longo prazo, com consultas periódicas (geralmente a cada 6 meses ou 1 ano), para avaliar a adesão, o estado do dispositivo e a estabilidade clínica.
É importante lembrar que os AIOs devem ser confeccionados com materiais de alta durabilidade, sob medida, e com base em moldagens ou escaneamentos digitais precisos.
Quando encaminhar para médicos do sono e como conduzir o trabalho interdisciplinar
A odontologia do sono é, por natureza, interdisciplinar. A atuação do dentista deve estar sempre integrada a uma equipe médica especializada, principalmente nos seguintes momentos:
- Na suspeita inicial de AOS, para avaliação diagnóstica com base em polissonografia ou exame domiciliar do sono;
- Em casos de apneia grave, onde o AIO não é tratamento de primeira escolha e o paciente precisa de suporte médico para CPAP ou outras intervenções;
- Em situações clínicas complexas, como pacientes com comorbidades cardiovasculares, metabólicas ou respiratórias, que exigem abordagem médica antes da intervenção odontológica.
A comunicação entre os profissionais deve ser baseada em relatórios clínicos, compartilhamento de exames e participação conjunta em discussões de caso.
Na odontologia do sono, ter uma rede de apoio com pneumologistas, otorrinolaringologistas, neurologistas e fisioterapeutas do sono é fundamental para oferecer um tratamento seguro e de qualidade.
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Conclusão
A odontologia do sono representa mais do que uma nova área de atuação clínica, ela simboliza uma mudança de paradigma na forma como o cirurgião-dentista pode impactar positivamente a saúde geral e a qualidade de vida dos pacientes.
Ao se capacitar para identificar, tratar e acompanhar distúrbios respiratórios do sono, o dentista assume um papel protagonista dentro de uma abordagem multidisciplinar, promovendo um cuidado mais integrado e humanizado.
Em um cenário onde os distúrbios do sono são cada vez mais prevalentes e subdiagnosticados, o olhar atento do profissional de odontologia pode ser determinante para oferecer alívio a sintomas debilitantes como o ronco, a fadiga crônica e os riscos sistêmicos da apneia.
Mais do que confeccionar aparelhos intraorais, o dentista que atua na odontologia do sono participa ativamente de transformações que influenciam na disposição, desempenho e bem-estar dos pacientes.
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